quarta-feira, 5 de maio de 2010

Brincadeiras



  Depois daquele jogo de UNO, onde eu perdi todas as partidas, Bernard sempre me chamava para brincar com ele ou alguma coisa em que ele estivesse envolvido. Parecia que ele pensava o tempo todo em um mundo de ideias só pra me incluir: jogar bola de gude no quintal, assistir ao jogo de futebol que ele participaria, ir ao parquinho com ele, correr com Bob, o labrador mais amável que eu já conheci, dançar com ele na quadrilha da escola.... no começo eu negava, mas como ele era mais velho do que eu, teve um pensamento 'genial': ele pedia à mãe dele para conversar com a minha mãe, sabendo que eu não poderia recusar a uma ORDEM dela.

Todos os dias depois da escola, como se já não bastasse na hora do recreio, eu chegava em casa, almoçava, tomava meu banho e ficava na janela até ouvir minha mãe dizer:

- Sophie, o Bernard te chamou pra brincar com você.

- Ah, mãe, hoje não. Tem dever de casa.

- A mãe dele disse que ele te ajuda. Vai lá, o menino é novo no bairro, vai fazer companhia pra ele!


  E eu ia, fazer dever de casa e brincar com Bernard, com esperanças de ter gotas da atenção do Frederico, mas... não, ele sempre estava com o videogame na mão. Maldito videogame, sempre tinha todas a atenção dele. Às vezes eu tinha vontade de ser um dos jogos dele... ser um vício pra ele, ter a atenção dele sempre que ele quisesse estar perto de mim por minutos, horas, até mesmo o dia todo. Mas ele ainda conseguia me encantar mesmo sem mover um músculo quando eu estava por perto, com aqueles óculos emoldurando seus olhos lindos, com aqueles cabelos vermelhos ondulados, com aquele jeito tímido...

  Mas, a cada dia de maneira mais clara, era o Bernard que estava sempre do meu lado, curtindo minha companhia, me divertindo, querendo que eu estivesse por perto, quase DEPENDENDO da minha presença.

  Era o contrário do que eu queria: sempre que eu estava parada, assistindo Frederico e suas partidas infinitas de videogame, lá estavam os olhos de Bernard quase me incendiando; ou quando eu queria ouvir a voz do Frederico (raro de se acontecer), lá estava o Bernard tagarelando sobre qualquer coisa incrível que ele fez, mas eu pouco me importava.

  Minha alegria era quando davam cinco e meia da tarde: a mãe deles nos chamava para fazer um lanche e todo mundo comia junto. Sem videogame, sem UNO, sem gudes, sem nada.  Só eu, Fred e o resto da família... Dava para ignorar. Logo após eu estaria em casa, de banho tomado e roupas limpas, olhando pela minha janela a melhor coisa do mundo: minha paixão.

  Em meus sete anos de idade, eu estava com meus pensamentos indo mais alto do que eu . E não iriam parar de crescer no decorrer do tempo.

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