sexta-feira, 30 de abril de 2010

Novos vizinhos


O tédio me dominava naquela manhã, o que uma criança de sete anos poderia fazer num dia chuvoso? Eu olhava pela janela a chuva cair e os meninos mais velhos jogando bola na lama, mas eu me divertia mais vendo os pingos rolarem pela janela do meu quarto do que a "pelada" na rua.


Vi descendo o morro um caminhão de mudanças, provavelmente seria para a casa amarela da frente, minhas amigas e eu acreditávamos que era assombrada, então, quando a placa de venda-se foi retirada não acreditamos que foi comprada e sim que os fantasmas haviam tirado-a de lá.

Da janela do meu quarto eu podia ver um dos cômodos, mas eu evitava olhar naquela direção por puro medo. De repente um dos fantasmas me espantaria de madrugada... não era bom arriscar.

E o caminhão, segundo minhas expectativas, parou em frente à casa amarela, até então 'assombrada'. Mas atrás do caminhão havia um carro, e eu não havia me deparado nisto. Um carro grande e prateado que gerava luz até mesmo em meio a um eclipse. Dali, saíram três pessoas: um homem de meia idade, grisalho e levemente acima do peso, uma mulher pouco mais nova e bonita de cabelos cor de fogo, um garoto de cabelos lisos, negros e jogados para o lado (que parecia ser da minha idade ou pouco mais velho) então passaram-se alguns segundos sem que mais ninguém saísse do carro, mas eu via silhuetas no carro, minha curiosidade não me deixou desviar o olhar... pulou um cachorro do banco traseiro onde as portas encontravam-se abertas, então pensei que provavelmente deveria ser a silhueta. A mãe tirou algumas malas do porta malas, o pai carregava algumas caixas e o garoto tentava controlar o enorme labrador que já queria ganhar a rua e conhecer a vizinhança. A mãe parou em frente a porta aberta do carro, parecia falar alguma coisa, então de lá saiu ele.

Confesso que nunca havia me apaixonado antes, eu não sabia direito o que era aquilo. A primeira vista eu o achei lindo e não consegui desviar o olhar, era como se o sol tivesse nascido durante aquele princípio de temporal. Ele era lindo, era o mais novo, então deveria ter no máximo sete anos, assim como eu. Ele era ruivo e usava um óculos meio fundo de garrafas, as sardas se contrastavam com o alvo tão acentuado de seu rosto e suas roupas pareciam maior que ele. Ele andava distraído com um minigame nas mãos.

Eu ouvi minha mãe dizendo que iria cumprimentar os novos vizinhos, então, mais que rapidamente eu desci as escadas para  acompanha-la, eu queria ver de perto quem era o responsável pelo meu provável primeiro amor. Meu coração estava a mil por hora e minhas mãos estavam tremendo, provavelmente eu estaria mas eu esperaria pra falar com a minha mãe quando a febre chegasse ou quando os meus pulmões estivessem congestionados. O capuz da capa de chuva atrapalhava a minha visão, e só podia ouvir a minha mãe dizendo que iria ajudar, então, a mulher se dirigiu a mim.


-Oi, lindinha. por que você não entra e vai brincar com o Frederico lá em cima ? Terceira porta à esquerda.

Eu caminhei um pouco mais rápido que o normal, tirei as minhas galochas na porta da sala e deixei o meu capuz ali no chão mesmo. Meus pés eram tão pequenos que meus passos não faziam barulhos, eu olhava pela janela e ia reconhecendo aos poucos a minha casa, meu coração deu um salto ao pensar que eu poderia ver a casa dele da janela do meu quarto sempre quando eu quisesse, na verdade o meu coração quase parou quando eu cheguei no local indicado pela  mãe dele e era o quarto dele, pela janela eu podia ver a minha janela. Ele estava sentado na cama e nem ao menos notou quando eu entrei, nem ao menos sentiu a minha presença, mas eu continuei ali, parada na porta ,observando ele jogar, em pé sem nem ao menos sentir os meus passos. Segundo nossas mães deveríamos brincar juntos, mas eu estava feliz  do modo em que estávamos, me sentia vendo o  melhor programa de televisão do mundo. Ele olhou em direção a porta e eu sorri pra ele, ele sorriu pra mim (  o que me fez abrir um outro sorriso ainda maior involuntariamente). Ele voltou a jogar.

- Oi.

ele sequer desprendeu as atenções do jogo dele, e quando eu pensei que ele iria defato dizer algo signifcativo ou pelo menos me cumprimentar pelo simples fato de eu estar parada ali feito um poste, ele disse:

- Yes! Passei de você, Mário. Achou que podia comigo, é ?!

Esse seria o momento perfeito de ir pra minha casa e desistir de exemplos de etiqueta por parte de Frederico, mas ele prendia minha atenção como uma música boba que não dá pra parar de ouvir. Então, eu permaneci olhando aqueles olhos verdes encantadores concentrados no minigame, imagino hoje quais deveriam ter sido as minhas expressões abobalhadas enquanto eu o observava, ainda ali, parada de pé na mesma posição inicial, com o mesmo sorriso bobo. A proximadamente trinta minutos eu permaneci assim. ouvia barulhos pela casa mas não me importava, a minha músinca boba estava eencantadora.

Eu estava praticamente em transe quando uma voz me chamou por trás.

- ei, você, vai ficar ai parada? - ele disse

eu olhei pra trás e vi, o menino que vi saindo do carro. Ele sorria um riso torto pra mim, parecia mais alto pessoalmente.

- er ... sua mãe me mandou vir brincar com Frederico mas ele ta jogando, vou esperar ele acabar
- esquece, o Fred nunca larga esse videogame idiota - ele revirou os olhos - eu me chamo Bernard e você?
- Sophie .. - minha timidez estava no auge.
- então Sophie, sabe jogar UNO?
- Não muito ...
- eu te ensino - ele sorriu.

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