sábado, 22 de maio de 2010

Parabéns

  Acordo como se fosse um dia qualquer, com minha mãe me levemente me sacudindo até perceber que estou desperta .

- Sophie, acorda !

- Ahn, mãe! Só mais cinco minutos ...

- Já te dei cinco minutos há quase meia hora atrás. Pode acordando .

- Uhm , tá bom .

  Desperto, ainda tonta de sono, e com os olhos meio fechados vou até o banheiro . Escovo meus dentes e vou para a sala, para assistir um pouco de televisão antes de tomar banho para ir para a escola.

  Mas, chegando na sala, vejo uma mesa com tudo o que eu gosto em cima : pães, bolos , cereais, empanados de frango, leite, biscoito, queijos, presunto, salame,  frutas, sucos, café e até mesmo refrigerantes. Lembrei - me de que era meu aniversário . Como eu poderia ter esquecido ?

- Parabéns pra você ♪  - Meus pais cantam . Milagre meu pai estar em casa, ele não para de trabalhar.

Meus pais não teriam dinheiro para bancar tanta coisa, ainda mais tão sortidas . Quem teria mandado aquela mesa farta para mim, por nada?

  Vejo um bilhete na mesa. Leio o que está escrito.

  "Para Sophie em seu aniversário. Que em seus passos sempre te acompanhem a sabedoria, a inteligência, a humildade, a bondade e o amor. Aproveite seu dia, ele é só seu . E que sua vida seja mais farta que nosso singelo presente. Estes são os votos de Herald, Elisa, Bernard e Frederico Watson . "

  Eu não podia acreditar naqueles nomes no cartão . O nome de Frederico chegava a pular do cartão . Eles mandaram um CAFÉ DA MANHÃ todinho, só pra mim ?! Era muito amável da parte deles, ou muito gasto .
Mas eu não queria saber, era meu presente, meu aniversáario e eu ia aproveitar. Comi, e me empolguei com tudo aquilo, sem medo de engordar um quilo, afinal eu nunca tive tendência a engordar . Minha mãe disse :

- Ei, guarda energia pra mais tarde.

- O que tem mais tarde? - respondi.

- Você vai ver. E vai gostar. - disse meu pai .

  Então vinha mais coisa ? Eu mal podia esperar .

  O dia foi se arrastando; e , quando a noite veio, parecia que eu havia esperado um ano por aquele momento . Minha mãe mandou eu ir tomar banho, pôs roupas novas em mim, penteou meu cabelo e mandou eu fechar os olhos. Fechei , e ela (ou meu pai, não sei) me vendou .

   Ela e papai me levaram em direção ao carro . Estava louca para ver onde chegaria, mas minha mãe sentou do meu lado para impedir que eu tirasse a venda, abrisse os olhos e estragasse toda a surpresa . O carro parou depois de um certo tempo, não sei se vinte minutoss, não sei se uma hora, mas minha ansiedade realmente me fazia sentir que o tempo estava passando sem pressa nenhuma.

  Minha mãe abriu a porta e me mandou sair. Eu saí , querendo tirar a venda, mas ela disse :

- Ainda não, espertinha ! Espera só mais um pouco .

   Depois de alguns passos, pude ouvir minha música favorita em um som absurdamente alto . Então, já soube do que se tratava . Minha mãe tirou a venda de meus olhos, e logo todos os meus amigos e seus pais, irmãos, tios e primos (talvez, tinha bastante gente mesmo) gritaram:

- SURPRESA !

  Então , minha mãe me deu um beijo no rosto e perguntou :

- Gostou do nosso presente, filha?

  Virei o rosto, e vi O MEU presente ali, parado , como no instante que eu o conheci, jogando videogame (pra variar) . Virei para minha mãe e disse , com toda a honestidade de uma menina de oito anos iniciados poderia ter:

- É o melhor da minha vida, mamãe.

  E no resto da minha festa eu dancei com minhas amigas , corri , brinquei , e quando ficava cansada demais com as brincadeiras, sentava e contemplava minha festa pessoal: ele, parado, lindo e maravilhoso.

Até que ouço uma voz familiar e afobada atrás de mim:

- Gostou do presente de manhã? Eu que tive a ideia, sabia que ia gostar.

  Virei meu rosto e vi Bernard ofegante e sorridente, com seus cabelos lisos totalmente desarrumados e sua roupa já desajeitada, também pelas brincadeiras.

- Gostei, sim . Muito obrigada pelo presente da sua família .

  Ele me deu um beijo no rosto , mas se encheu de alegria como se tivesse dado um beijo de cinema no grande amor da sua vida. Saiu tão de repente quantoo chegou e não apareceu mais por um tempo, por causa da timidez.

- PARABÉNS PRA VOCÊ... ♫

 

   A canção era cantada mais uma vez, eu dei o primeiro pedaço de bolo para minha mãe, e em poucos minutos a festa acabou, todos foram embora, eu entrei no carro e dormi ali mesmo, até chegar em casa. Essa realmente foi uma data querida .

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Brincadeiras



  Depois daquele jogo de UNO, onde eu perdi todas as partidas, Bernard sempre me chamava para brincar com ele ou alguma coisa em que ele estivesse envolvido. Parecia que ele pensava o tempo todo em um mundo de ideias só pra me incluir: jogar bola de gude no quintal, assistir ao jogo de futebol que ele participaria, ir ao parquinho com ele, correr com Bob, o labrador mais amável que eu já conheci, dançar com ele na quadrilha da escola.... no começo eu negava, mas como ele era mais velho do que eu, teve um pensamento 'genial': ele pedia à mãe dele para conversar com a minha mãe, sabendo que eu não poderia recusar a uma ORDEM dela.

Todos os dias depois da escola, como se já não bastasse na hora do recreio, eu chegava em casa, almoçava, tomava meu banho e ficava na janela até ouvir minha mãe dizer:

- Sophie, o Bernard te chamou pra brincar com você.

- Ah, mãe, hoje não. Tem dever de casa.

- A mãe dele disse que ele te ajuda. Vai lá, o menino é novo no bairro, vai fazer companhia pra ele!


  E eu ia, fazer dever de casa e brincar com Bernard, com esperanças de ter gotas da atenção do Frederico, mas... não, ele sempre estava com o videogame na mão. Maldito videogame, sempre tinha todas a atenção dele. Às vezes eu tinha vontade de ser um dos jogos dele... ser um vício pra ele, ter a atenção dele sempre que ele quisesse estar perto de mim por minutos, horas, até mesmo o dia todo. Mas ele ainda conseguia me encantar mesmo sem mover um músculo quando eu estava por perto, com aqueles óculos emoldurando seus olhos lindos, com aqueles cabelos vermelhos ondulados, com aquele jeito tímido...

  Mas, a cada dia de maneira mais clara, era o Bernard que estava sempre do meu lado, curtindo minha companhia, me divertindo, querendo que eu estivesse por perto, quase DEPENDENDO da minha presença.

  Era o contrário do que eu queria: sempre que eu estava parada, assistindo Frederico e suas partidas infinitas de videogame, lá estavam os olhos de Bernard quase me incendiando; ou quando eu queria ouvir a voz do Frederico (raro de se acontecer), lá estava o Bernard tagarelando sobre qualquer coisa incrível que ele fez, mas eu pouco me importava.

  Minha alegria era quando davam cinco e meia da tarde: a mãe deles nos chamava para fazer um lanche e todo mundo comia junto. Sem videogame, sem UNO, sem gudes, sem nada.  Só eu, Fred e o resto da família... Dava para ignorar. Logo após eu estaria em casa, de banho tomado e roupas limpas, olhando pela minha janela a melhor coisa do mundo: minha paixão.

  Em meus sete anos de idade, eu estava com meus pensamentos indo mais alto do que eu . E não iriam parar de crescer no decorrer do tempo.
 
só, no meu silêncio. Design by Exotic Mommie. Illustraion By DaPino